sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um texto fora de série.

Nota do Leiria: É com a mais dolorosa vénia que transcrevo para este meu puro e singelo blogue, este doloroso brado de Manuel Halpern, enviado pelo digníssimo camarada de armas Joaquim Rosa Silva, que certamente lhe aquece, talvez de ira, o caudaloso sangue efervescente que lhe corre nas veias…! Sim! Porque é esse o meu sentir também… que como irmãos siameses, comungamos do mesmo sentimento o qual nos obriga a deixar escapar algumas lágrimas de tristeza…


Totalmente de acordo. A mim não me apanharão a escrever desta maneira, nunca.
Um cê a mais

Manuel Halpern

Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

É com este dialeto

Que fica tudo coreto?

Escrito com reticencia?

Que raio de preconceito

Fazer assim deste geito.

É umTratado de demencia

Que tristeza… ao que chegamos…


Leiria Cont.: Simplesmente horrível o que os miseráveis políticos vêm fazendo há uns tempos a esta parte… Já não basta o que fizeram à Pátria Amada - destroçando-a - e Esta, moribunda estrebuchante, ainda, duma morte agonizante dum passado recente … e vêm com o derradeiro e finalizador golpe de aniquilar a sua/nossa língua; a sua/nossa alma; a sua/nossa verdadeira identidade...

Ai minha querida Língua… a mais pura entre todas…!
Ai minha Pátria Amada… que os políticos não mais te amam…?!

8 comentários:

Edum@nes disse...

Já não és a pátria amada,
Como a foste em outrora
Estás a ser mal tratada
Cá dentro e lá por fora.

Aos seus filhos a escrever ensinou,
Cresceram e as lições aprenderam
Quando com eles no seu colo andou
Pelos vistos nem sempre lhe obedeceram.

Se os filhos com seus pais aprendem,
As lições que estes já tinham aprendido
Têm coração mas parecem que não sentem
Mas nenhum deles quer ser ofendido.

Piko disse...

A minha opinião acerca da questão da língua portuguesa, que é a nossa língua é esta:
« Nada justifica o que querem fazer, ou já fizeram, indo ao encontro de um país, que só porque adoptou a língua do país colonizador, lhe apetece (e tem todo o direito para o fazer) umas centenas de anos depois, derivar para uma língua um pouco diversa, que poderá justificar-se devido às culturas daqueles povos, que, entretanto, terão outras influências que só os mais estudiosos poderão perceber!...
Não é verdade que a nossa língua que tem o latim como raiz, como o castelhano, por exemplo, não ficou parada no tempo e caminhou numa outra direcção, sem que tivesse que ficar refém de culturas como as italianas ou castelhanas?!...
E só quem não quer perceber tudo isto é que se põe a inventar o que já fora inventado! Quando o povo brasileiro diz "camioneiro", mesmo os intelectuais, enquanto os portugueses dizem "camionista", quererá dizer apenas e só que os brasileiros começaram há décadas a assumir uma outra língua, que, virá, mais cedo ou mais tarde, a chamar-se língua brasileira. Ou será que vão domesticar o que ainda não domesticaram e pôr-nos a aceitar também o "camioneiro"?!
Claro, que devemos ter um bom relacionamento com o Brasil e com os demais povos que foram colonizados por este país, mas estes povos tinham e têm os seus dialectos e que nunca deixarão de falar... Apenas usam o português por interesse próprio e como língua oficial no contexto internacional, mas nada nos garante que seja uma opção eterna! Depois no plano interno não era muito ATRAENTE colocar em Angola, o Kimbundo como língua, porque há mais três grandes grupos linguísticos, e, isso seria motivo para grandes divisões entre os angolanos e fartos de guerras devem estar aqueles povos... Em Moçambique a coisa era ainda mais complicada, porque há muito mais etnias e línguas que em Angola...
Dito isto, percebe-se, que o que faz esta gentinha meter-se por caminhos enviezados, foi depois de terem percebido que com a chegada de Lula ao poder, aquele grande país iria, finalmente, começar a ter a projecção que nunca tivera!... Faz-me lembrar um caso que conheço cá em Ovar, de um simples e complexado cidadão que desde 1976 vai a todos os jantares onde sabe que se sentam os snr.s doutores, no intuito de conseguir, não se sabe lá muito bem o quê, mas ao que tudo indica, não se nota nada de especial na sua vida, mas o que se sabe é que devido a tanto jantar até para lá da meia-noite, terá arranjado uma quantidade de doenças nada famosas, desde o ácido úrico com valores que fazem arrepiar, mas onde o colesterol e os triglicerídeos também não quiseram ficar atrás!
Este é, quanto a mim, o maior problema deste país, onde os complexos de inferioridade se aliam fortemente a outras debilidades de carácter e fazem de nós o povo que ainda somos!
E as facturas são para pagar e com mentalidades destas, saírá muito caro!

Piko disse...

Uma pequena rectificação:
« Onde digo o Kimbundo como língua...» queria dizer:« ... o Kimbundo como língua oficial...»

J. Rosa Silva disse...

Amigo Leria. Estou de acordo com o teu comentário sobre o texto aqui reproduzido.
Em minha opinião, o brasil está a "vingar-se" por lhe termos legado o português como língua oficial. Que me desculpem os nossos amigos brasileiros.
Mas como diz o comentador PIKO, há palavras utilizadas no Brasil que nunca iremos adotar ou adoptar.
Um abraço.

Tintinaine disse...

Também recebi este texto e gostei do humor com que o autor aborda a questão.
E tem que ser assim mesmo, é melhor levarmos a coisa a rir para não termos que chorar por mais este pontapé na nossa herança linguística.
Há certos modernismos que se aceitam e a nossa Língua tem que estar sempre aberta a melhorias que o povo deseje incorporar, mas muitas destas alterações não têm sentido nem justificação nenhuma.
Mas que podemos fazer para travar esta loucura?

António Querido disse...

Adaptar-mo-nos, e ir aprendendo o que nos vão ensinando, não tarda estamos todos a falar língua de cão, a rastejar já andamos!
Boa saúde AMIGOS!

Observador disse...

Se o Amigo Páscoa não se importa faço minhas as suas palavras.
Um abraço para todos
Virgílio

Valdemar Marinheiro disse...

Para prova solidária com todos vós e permitam-ne que faça das vossa também minhas as palavras.