quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mãe Alentejana



Mê querido filho:

Ponho-te estas poucas linhas que é para saberes que tôu viva.

Escrevo devagar porque sei que não gostas de ler depressa. Se receberes esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando outra.

O tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorre a 1 km de casa. Por isso, mudámo-nos pra mais longe.

Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro mandar-to pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim, arranquei os botões e meti-os no bolso. Quando chegar aí prega-os de novo.

No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha. O pai e eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira vez em muitos anos que o tê pai e eu saímos juntos.

Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.

Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar. O tê Pai ofereceu-se para comprar o tubo.

Tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina. Portanto, nã sei se vais ser tio ou tia.

O tê mano Antóino deu-me hoje muito trabalho. Fechou o carro e deixou as chaves lá dentro. Tive de ir a casa, pegar a suplente para a abrir. Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava em baixo.

Se vires o Sr. Alcino, diz-lhe que mando lembranças. Se nã o vires, nã digas nada.

Tua Mãe Mariana

PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já tinha fechado o envelope 

Oh minha mãe minha amada/Quem tem uma mãe tem tudo/Quem não tem mãe não tem nada

2 comentários:

Tintinaine disse...

Esta é uma das melhores «alentejanas» que eu conheço.
Exagerada como um raio, mas engraçada até dizer basta!

Edum@nes disse...

Como diz o "tintinaine", esta é de facto uma alentejana genuína. É claro que ela exajera em tudo o que diz.
Mas era mesmo assim. quando ela diz que arrancou os botões do casaco por serem de ferro, para os colocar no bolso, pensando que assim se tornariam mais leves. Eu acredito que, isso, se tenha passado assim mesmo.
Também havia lá no Alentejo um senhor que seguia montado no seu burro, e transportava uma canga, às costas pelo facto de assim se tornar mais leve ao burro. Dizia ele! Também conheci uma senhora que se dirigiu á mercearia do senhor Lucas, e perguntou-lhe se ele tinha sal, tendo ele respondido que sim, mas era do salgado. Desse não quero disse ela! Dias depois voltou à mesma mercearia perguntando ao mercieiro se tinha vinagre, tendo o mesmo respondido que sim, mas era do azedo. Novamente, desse não quero disse a referida senhora.
Bom fim de semana. O senhor Lucas era muito brincalhão, e dava muitas das vezes respostas destas aos seus clientes.
Um abraço
Eduardo.