quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Se são bons Trabalhadores lá fora, porque não são cá dentro?


"Se são bons Trabalhadores lá fora, porque não são cá dentro?"
Como resposta ao amigo Virgilio vai o meu artigo:
"Portugueses na diáspora..." .


   Fuzo de agua doce disse...

Que grande lição eu recebi desta Mensagem, gostei mesmo do-que aqui é dito, fiquei «preso» na frase que diz: os Portugueses são bons no Estrangeiros, mas no uso do corpo, porque no uso da cabeça, estamos a anos luz doutras Etnia.
Sabes, sempre ouvi que os Portugueses no Estrangeiro eram dos melhores, mas agora vindo este esclarecimento de quem sabe, compreendo melhor uma coisa que me fazia confusão, se são bons Trabalhadores lá fora, porque não são cá dentro?
Com desejo de melhoras, dessa Pneumonia
Votos de Feliz Natal para ti e todos os Teus.

Um abraço

Virgílio

Portugueses na  diáspora...

Boa questão, grande amigo… tão grande que dava para escrever livros!

Quanto à minha opinião, somos um povo de temperamento, onde não existe a determinação, perseverança e a vontade férrea do nunca desistir!

Temos medo do trabalho que temos pela frente, mas quando o decidimos fazer não somos capazes de o fazer com calma… parece que lhe temos raiva! Faz lembrar o tendeiro que fica inconfortável/nervoso quando vê a casa cheia!

A primeira palavra nova que aprendi na Alemanha foi “calma aí, devagar”. Bem verdade que, devagar se vai ao longe… como eles o tem provado!

Somos um povo, ainda complexado da ditadura que nos confrangeu por 40 anos, temos medo da competição mesmo que o talento seja invejável, no entanto somos ambiciosos como poucos, mas não adaptáveis em pagar o preço do custo do sucesso.

Arrancamos com coragem de leão, mas ao primeiro impasse acontece uma parada de sapo; é um vai ou racha - ou, trabalho vai-te embora...

Aí em Portugal, somos como somos, porque pensamos ainda no que os outros possam pensar a nosso respeito… as boas maneiras são parte do currículo de cada qual. A mania das classes ainda subsiste: - não faço esse trabalho porque é degradante ao brio próprio… é feio, sujo e não paga!

No estrangeiro, ao adaptarmo-nos a outros costumes, os complexos deixam-se em casa; desde o apanhar minhoca para a pesca, que é uma indústria cá; ou da mulher-a-dias; ou duma construção onde os trabalhadores competem fisicamente com os colegas para que não sejam despedidos: faz-se de tudo, sem lamurias…

Se trabalhasse-mos com a cabeça como o fazemos com o corpo seriamos talvez a comunidade # 1 neste vale de lágrimas da diáspora!

O povo oriundo das ilhas britânicas (british subjects) anos atrás, eram os homens da autoridade: polícias, examinadores, inspectores, chefia de departamentos governamentais etc.!

O Italiano; que vejo como um povo de contrastes, no respeitante a talento e artes, tem sido um povo alicerçado como poucos no Ocidente! Quarenta anos atrás, quando tinham eles já 100 anos deste país e os portugueses 10, ninguém mais pegava numa colher de pedreiro a não serem eles. Contudo, hoje são os portugueses os donos da mesma, mas para que isso acontecesse foi preciso que os velhotes se reformassem… Todavia, o italiano é dono de toda e qualquer indústria: da política, das artes, do cinema, das uniões e até do crime…! Quem não ouviu falar da Máfia Ainda? 

Franceses? Não me perguntem, mas aqui nunca passaram do que são há centenas de anos… pouco ou nada vejo deles feito, a não ser no Quebeque onde o apego aos usos e costumes da velha França é tão ferrenha que até uma lei foi criada para proibir letreiros escritos em inglês nas casas de comércio, como jamais se viu em qualquer país do mundo, mas quiseram reivindicar o direito do francês em todos os departamentos do governo a nivel nacional! Porca miséria!

Curiosamente, o carro francês nunca teve aceitação na América do Norte, quando em Portugal são quase os donos das estradas… vamos lá compreender tal paradoxo?!

Espanhóis, se não forem os latinos, Sul-americanos, e alguns Galegos, não querem nada com este país. Tentaram mas nunca passaram dos 5 mil, quando os portugueses passam de mais dos 250 mil só em Toronto.

Alemães, foram sempre aceites de mãos abertas, o que não é para menos! Basta ver como, devagar mas com tenacidade, mas num abrir-de-olhos tinham a Alemanha reconstruída…! Mesmo um português que dissesse na aplicação para trabalho que era alemão em qualquer industria, tinha logo trabalho… o problema seria quando viessem a saber que não era mais do que um herói português. A rua seria sempre suficientemente larga para o aceitar...

Pessoalmente, tenho sido um alcoólico do trabalho, (workaholic) durante anos seguidos, como instrutor de condução começava o meu dia às 6 horas da manha e terminava por voltas das 11 da noite, numa semana de 6 dias pelo menos.
 Usualmente, depois de deixar o carro do patrão na sua garagem tinha que caminhar talvez uns 700 metros até chegar a casa, acreditem que pelo caminho a estrada dançava à minha frente, precisamente como quando saíamos dum navio de guerra, depois duma viajem na costa de Moçambique!
Se fosse em Portugal? Então não estaria primeiro a ida à festa da aldeia, a ida à praia, o encontro com os amigos, o baile da paróquia, enfim algo que fizesse parte do bom e decente viver a que todo o humano, penso, tem direito?

 "Esta a minha segunda cidade, Toronto, minha amada!"

5 comentários:

Edum@nes disse...

Após ter lido o teu artigo "Portugueses na diáspora". Agora compreendo porque é que muitos Alentenjos emigraram para a Alemanha?
E sendo assim creio que os Alemães, devem apreciar a calma dos aletejanos. A maioria trabalha com "calma", mas também não é assim tão devagar como muitas pessoas o dizem!

Desejo para ti, e para tua família Feliz e Santo Natal.
Um abraço
Eduardo.

Valdemar Marinheiro disse...

Gosto da forma sábia como abordas o problema.
Infelizmente a mentalidade de uma grande parte dos nossos trabalhadores com os quais lidei na construção civil, não tinham vontade de aprender,nem gosto pelo que faziam. Quando assim é??? Não há a fazer.
Não sou melhor que ninguém, mas cheguei aos 44 anos à construção civil, não sabia se a massa era feita a três de cimento e um de areia ou o contrário e aos 45 já era Ferrageiro de Primeira.
Gostava de tudo o que fazia e sempre que mudei de Mestre, vinham buscar-me a casa, nunca precisei de procurar trabalho.
Tinha em pequeno e depois nos poços de água comido o Pão que o diabo amaçou.
Parabéns pelo artigo.
Um Natal de Saúde, partilha e muito Amor, para ti e quem te é mais queridos, incluíndo Amigos

lmdoliveira disse...

Boas festas Leiria, com saúde e que a diáspora dos portugueses seja exemplo e orgulho nacional!
Abraço

Observador disse...

Amigo Leiria
Foi com prazer que li mais esta lição sobre o trabalho desenvolvido pelos Trabalhadores de diversos Países, só uma vez na vida tive conhecimento presencial dum trabalho executado por um não Português que ficou na minha memória para sempre.
Foi uma história deprimente para a Engenharia Portuguesa, que teve de pedir a um Técnico Sueco que cá viesse resolver um problema que eles não conseguiam, chegou cá mandou fazer um furo num tubo, ligou uma mangueira com água, colocou o equipamento a funcionar em dez minutos, apanhou o avião e voltou para o seu Pais, os nossos Engenheiros sorriram uns para os outros, mas creio que nem pensaram no ridículo por que acabavam de passar.
Um Feliz Natal para Ti e todos os Teus
Um abraço
Virgílio

Valdemar disse...

Concordo absolutamente!... Faltou porém analisar "o background" dos nossos emigrantes, o que daria uma resposta adequada a todos os problemas que os mesmos enfrentam no estrangeiro... Arriscando-me mesmo a dizer que fazemos parte de uma grande maioria "de emigrantes económicos" preocupados mais em acumular riqueza do que cultura... No entanto penso que não somos dos piores que outros grupos étnicos... Revelando-nos as estatísticas que "os troublemakers" e uma grande percentagem de desempregados deste país são oriundos do Médio Oriente... Quanto ao facto de os nossos trabalhadores não quererem fazer em Portugal o que fazem no estrangeiro... Talvez mas só talvez a razão esteja na diferença de salário.
Valdemar Alves