Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do quintal.
Chegando lá, constatou que um ladrão tentava levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo... mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Doutor, afinal levo ou deixo os patos?
4 comentários:
For Christ's sake, já tinha pensado que este blog tinha ido parar à Quinta das Tabulêtas... Bom, o amigo Barbosa du Bocage passou pela Briosa, portanto tá tudo dito. O gajo era um ponto!
Como diz o Valdemar, este blog tem andado meio desaparecido. E mais vai ficar com a chegada das férias e a respectiva viagem a Portugal prevista para a próxima semana.
Do Bocage... só é pena que esteja tão pouco divulgado. Nas nossas escolas podiam alternar, ora Camões ora Bocage, mas os professores têm vergonha de enfrentar a leitura das suas poesias. Estou a pensar, por exemplo, na soneto feito à água.
Boa noite amigo Artur, e bom fim de semana para ti, para quem te acompanha.
E a seguir um verso do Bocage.
Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da desventura,
Pela baça, Tristeza envenenados.
Um abraço
Eduardo.
Como diz o Valdemar e bem, Bocage passou pela Briosa, assim aqui vai algo que ele escreveu sobre o assunto:
Na manobra quem é mais diligente
Que eu? Quem sabe deitar melhor o prumo?
Quem no leme e na agulha é mais ciente?
A carga no porão com regra aprumo,
Sei pôr à capa, sei mandar á via,
Como qualquer piloto, e dar o rumo,
Sei como hei-de correr com travessia,
E pela balestilha ou pelo oitante,
Achar a latitude ao meio-dia;
Sei qual estrela é fixa e qual errante.
A Lebre, o Cisne, a Lira, a Nau conheço,
E Oríon, tão fatal no navegante...
Bocage
Um abraço
Virgilio
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