Por Artur/Leiria
Narrativa em jeito de opinião…
A inflação é maldita para muitos e bendita para alguns, actua como faca de dois gumes. Maldita; porque para os leigos e os mais humildes. por falta de engenho mental próprio mantém-nos paupérrimos. Ao contrário, os mais informados e com os predicados apropriados no seu lugar, honesta ou desonestamente vão com certeza singrar.
Contudo, é preciso ter em conta que não existem investimentos sem risco. No entanto quanto maior for o risco, mais existe a possibilidade de grandes lucros ou o contrário; grandes perdas! Mesmo que se tenha o dinheiro a vencer juros num banco, ter em conta que dos lucros ter-se-há que subtrair o valor da inflação e, muitas vezes os custos aplicados pelo banco ou companhia investidora. Neste caso se o mercado está bom, o risco é de se perder a oportunidade de conseguirem ganhos melhores noutras formas de investimento!
Quando miúdo, rondando os dez anos, bem no coração da aldeia que me viu nascer, era trabalho exigido, ajudar no que fosse preciso junto dos homens que trabalhavam para os meus pais nas suas terras de lavoura, que as “sortes” nas partilhas das heranças os tinham agraciado! Ora cachopo, já me ia apercebendo, mas sem entender muito, toda aquela conversa destes homens de trabalho duro, sobre vinténs e mil reis, e que naquele tempo diziam: que a vida é que era dura, e que para se fazer vida, um homem teria que ganhar num dia para um alqueire de farinha etc., etc.
Para mim o que diziam era como se eles tivessem vivido num outro mundo antes! Aquando na minha meninice, já era com os escudos que se lidava. Aprendo mais tarde que tudo na vida era e é relativo, ganhavam-se uns magros vinténs por dia em Portugal, milhares de liras na Itália e assim era pelo mundo fora… mas ao fim ao cabo, quase tudo batia no mesmo; logo o trabalho fosse igual e de igual valor dentro de cada pais.
Na verdade, no meu mundo onde só conheci os escudos, só o nome do dinheiro é que mudou mas dificuldades ou faltas destas eram as mesmíssimas. Um homem trabalhava sol a sol, seis dias por semana, para ganhar à volta de 100 escudos! Lógico, que esse dinheiro dava para comprar muito das poucas coisas que existiam para se viver. Hoje ganham-se milhões! Milhões se gastam!
Lembro vividamente uma senhora, que me parecia velha, porque para as crianças já se vê como velha uma pessoa de meia-idade, chorando estrada fora, à procura duma nota de 20 escudos que tinha perdido. Todavia, a nota dos 20 escudos era mais, do que um dia de trabalho para um homem do campo, a qual compraria a comida da semana para uma família como a da senhora.
Vai-se para a escola, aprende-se muita coisa boa e outras que foi só para encher currículo, quando na verdade se poderia aprender algo sobre finanças, poupanças e tudo mais relacionado com a influência da inflação na vida dos mortais.
Inflação foi palavra, que apesar de ter adquirido o curso da escola industrial, só a venho a compreender no seu todo, aqui no Canadá. Lembro que 15 dólares por semana davam para comprar a nossa comida incluindo a do primeiro bebé.
Que o galão imperial, 4.55 litros, de gasolina custava 32 cêntimos, os carros mesmo com uns trambolhos de motores, a gastarem como se fossem tractores não faziam abalo nas finanças de quem tinha trabalho! Que importava se duas ou três horas de ordenado davam para encher o depósito?! Ganhava-se pouco mas ia-se longe! As vacas, na altura, eram mesmo gordas! Hoje, muitas coisas são mesmo baratas, o problema é que são mais e muitas, em relação às da altura.
Vivemos num mundo de causa e efeito (Ying & Yang para os chineses), onde, com o bom vem sempre algo mau e vice-versa. Ora vejamos; se há muito trabalho é bom e é mau. Bom porque se ganha para se ter algo melhor na vida. Para o governo também, porque angaria mais verbas e a sociedade em geral vive melhor, pelo menos por um período de tempo. Mas também é inconvenientemente mau porque obviamente tem um efeito inflacionário! Porque havendo mais dinheiro, este vai criar mais procura, que em turno vai reduzir o volume da oferta, logo quem vende, pede mais, aumenta o preço. Por isso é mau!
Ter em conta, que tudo na vida tem esta mesma lei da “causa e efeito”. Contrariamente, se não há trabalho, é bom e é mau também, precisamente porque aqui o inverso é aplicável. Infelizmente, que até as guerras não fogem à regra! É fatalmente mau porque se mata, mas é pesarosamente bom porque se fabricam armas e se pagam ordenados etc. Ainda outros ditos tais como: “perdoa-se o mal pelo bem que sabe”, “a mentira e a consequência”, entre outras…
Ora, o cerne deste artigo entre agora em cena. Como podem ver na foto onde estou com a casa por detrás, custou ao meu sogro a tremenda, mas relativa quantia para a época, 1969, de 67 mil dólares. Quatro anos depois foi vendida por 107 mil, quem a comprou, fez alguns melhoramentos vendendo-a na altura por 135 mil. O novo proprietário que se segue, vende-a 15 anos depois por 1 milhão e trezentos mil dólares! Vejam só a exorbitância!
Porém, agora sou eu a dizer: afinal na vida normal dum homem há tempo que baste para mudanças desta natureza, portanto o que os homens simples do campo iam falando na altura, era a realidade nua e crua da evolução das coisas, só que para nós miúdos parecia-nos que estavam falando do tempo da pré-história. Por isso o mundo é dos visionários que souberam e sabem dar pernas para caminhar e, ao usá-las irão ao encontro das suas visões.
Hoje o mundo das finanças é uma combinação de muitos cálculos, que associados requerem: inteligência, conhecimento, determinação, saúde, aspiração, e paixão em fazê-lo e acima de tudo muito trabalho e, por fim, a sorte como o povo diz, o que está provado que essa é irrelevante, logo todos os ingredientes estejam no seu lugar. A sorte vai-se encontrar logo ali e não o inverso, onde a mesma, como crença do povo, terá que vir ao nosso encontro para se singrar na vida.
Chile por exemplo, na Altura do Salvador Alende e talvez porque os Americanos lhes fizeram um boicote, a inflação chegou a mais dos que 100% ao ano! Então, os mais informados estrategicamente, empenhavam-se a comprar ouro para logo de seguida o vender com lucros suficientes para pagar aos credores e manter alguns ganhos, repetindo esta forma de jogar com o dinheiro e o ouro com sucesso. É sobejamente sabido que num período de inflação ao ter-se propriedades de qualidade, consegue-se a protecção dela (inflação), que é sempre destruidora para os mais incautos.
Quase sempre, em mercados livres como os do ocidente, os governos são os maiores causadores de inflação! Ora, porque estes não são auto-suficientes, logo ficam dependentes da movimentação de capitais através do povo. Aí o governo vai aumentar taxas ao povo, bom que seja de parâmetros apropriados e sem excessos, ou passam a imprimir mais moeda, ou ambas, alem de outras medidas como: ajustamento na taxa do juro para protecção da sua própria da moeda. Todavia, isto é horrivelmente inflacionário tornando o povo humilde, que não joga no mercado, mais pobre ainda!
Por outro lado, o governo tem que o fazer, ou cria o risco de não poder competir mais no mercado internacional. Nessa situação, a nação passa a não poder importar aquilo que é talvez de sua básica necessidade.
Imaginamos que, um país deve biliões a outro na moeda no seu valore currente, por qualquer eventualidade desencadeada o país devedor passa a ter uma inflação disparada, anos depois ao pagar com a moeda que desvalorizou vai representar uma perda tremenda para o país credor, com um valor acrescentado para o país pagador! Mas aí, este não está esse livre da “causa e efeito,” com possíveis consequências graves, tais como: crédito cortado total ou parcialmente, e talvez até, com todos os outros países de suas relações, ou seja, praticamente, nos dias de hoje, da comunidade global.
Lembro no Brasil em 1989, quando de férias lá, pessoas a pedir sentados, junto às portas dos estabelecimentos comerciais, e porque o cruzado ao ter passado para o cruzeiro, como estratégia do governo, sofreu um ajustamento, penso, para 10 vezes menos do seu valor, causando que no chão junto aos pedintes, rolavam dezenas ou mesmo centenas de notas que tinha acabado de perder o seu valor! Um paradoxo angustiante!
Como exemplo, o qual se aplicaria no meu caso próprio; imaginamos que inflação continua aí em Portugal como vai acontecendo há muitos anos, e que no Canadá ela fosse praticamente eliminada? Aconteceria que não ganharia cá, para poder viver o dia-a-dia em Portugal mais tarde. Portanto isto prova que a inflação é um demónio, que não se pode viver sem ela.
Oxalá não vejam isto como longo e cansativo.
Como vai na gíria: “O que se faz por gosto não cansa.”
Até Outubro e que a saúde vos bafeje, camaradas!